Escrever sobre competências que compõem o perfil do profissional de alta performance ou sobre o famoso C.H.A (conhecimento, habilidades e atitudes) ou A.C.H.E (atitude, conhecimento, habilidade e entusiasmo), não é tão simples, pois são tantas que desenvolvemos ao longo da vida e carreira, que não seria eu neste artigo a citar as mais importantes. Para cada fase que vivemos, necessitamos aprimorar nossas habilidades e desenvolver novas competências técnicas, comportamentais e atitudinais. Sempre!
Enfrentar desafios na vida empresarial e pessoal é rotina para a maioria das pessoas, mas adquirir experiência para superá-las é meta para poucos e no livro VOCÊ, a Águia e a Natureza, incentivo os profissionais competitivos a superarem seus limites reais ou imaginários e a conquistarem seus objetivos, despertando a águia interior de cada um, adormecida às vezes.
Há mais de 16 anos atuando na área de Recursos Humanos, pude compilar vários conceitos e principalmente as experiências de treinar milhares de profissionais de diversas áreas, com dezenas de cursos voltados a gestão do capital humano. Tais conhecimentos atrelados à minha experiência gerencial, de empresária e de vida foram fonte inspiradora para escrever o livro VOCÊ, a Águia e a Natureza – O Experiencial do VOCÊ S.A lançado na Bienal Internacional do livro em 2008 e 2ª edição revisada em 2009.
A proposta do livro é ajudar as pessoas a ser o melhor profissional possível, superar limites e atingir seus objetivos. Ele pode ser considerado um grande “farol” que ilumina oportunidades para o seu desenvolvimento e diante desse “farol” você pode acelerar fundo e sem medo de ser multado pela vida. Afinal, a vida é composta por erros e acertos.
Além da abordagem das competências essenciais, exploro o perfil do profissional tradicional versus o profissional moderno, que deve estar preparado para situações inesperadas e pronto para entrar em ação, a qualquer momento.
O livro ressalta também a importância da Natureza no aprendizado humano, lembrando-nos de que a mesma é nossa grande fonte de inspiração. Aristóteles já dizia: “A Natureza não faz nada inútil. A mãe natureza é catedrática. Esta imensa “sala de aula” torna-se um ambiente inusitado para aplicação da metodologia experiencial ao ar livre, que através de vários programas de T&D, as empresas continuam investindo no desenvolvimento no seu maior capital, intelectual e humano, como grande diferencial competitivo.
A interação com a Natureza para aperfeiçoar e/ou desenvolver habilidades e reflexões sobre atitudes e comportamentos irá contribuir para você ser um profissional cada vez mais competitivo e de alta performance.
Cito as virtudes das águias, que é símbolo dos EUA, foi de grandes impérios (russo, alemão, francês), e ainda é fonte inspiradora para a humanidade, que por possuir tantas qualidades é considerada a “Rainha dos Ares”. Utilizo tais exemplos para instigar a águia interior que existe dentro de cada um, incluindo analogias no aperfeiçoamento dos seres humanos.
O livro é um incentivo para o leitor tornar-se um profissional águia, de alta performance, capaz de contagiar os colegas de trabalho motivando-os para a ação e mudança de comportamento.
O Profissional Águia busca o autoconhecimento e desenvolvimento contínuo. São pessoas movidas por valores e ideais; encaram desafios, não tem medo da adversidade da vida; têm independência; perguntam sempre “por quê?”; têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo; são determinadas; têm visão do macro, mas não deixam de analisar o micro, entre outras habilidades e atitudes.
Em se tratando de um profissional competitivo, há exigências de dezenas de competências técnicas e comportamentais que desenvolvemos, mas que são complementadas por oito que julgo como base para as demais. Exploro-as no livro e abaixo as cito resumidamente.
1) Autoestima
A autoestima é uma competência poderosa. O sentimento que uma pessoa tem em relação a ela mesma, é capaz de transformar uma vida: ter consciência do seu valor pessoal, acreditar em si mesmo, confiar no seu potencial, mas na prática não são tarefas tão simples assim.
Na infância, o conceito de autoestima começa a ser formado. Decodificamos a maneira como os outros nos tratam e tiramos conclusões que podem durar uma vida inteira. É possível que tenhamos uma visão distorcida de como somos. As experiências do passado ainda exercem, sem dúvida, uma grande influência na nossa vida adulta. Decepções, situações de perda, ou falta de reconhecimento por algo que se fez, contribuem para a perda de autoestima.
Quando nossa autoestima está baixa, ficamos inseguros, acreditamos não sermos capazes, cheios de dúvidas. Queremos agradar aos outros a qualquer custo. Não pensamos sequer em agradar a nós mesmos.
A autoestima afeta o desenvolvimento da competência intrapessoal e interpessoal, em tudo aquilo que fazemos no trabalho, na família, na sociedade, na saúde, no amor e em nossa fé. É o valor que você dá a si mesmo e impõe respeito. Os outros sempre tratam você como você se trata. Isso é fato.
Se você carrega alguma insegurança desde a infância, resolva-a. Resgate essas memórias, trabalhe-as. Nunca há uma melhor hora que o presente.
No mundo dos negócios, as pessoas querem trabalhar com pessoas que sabem o que estão dizendo, que não hesitam e que confiam em si.
A autoestima foi a primeira competência citada, porque ela influi diretamente nas demais.
“A autoestima é o que há de mais divino no ser humano. Pois quando nada lhe resta, resta-lhe a si mesmo” – Cíntia Salavato
2) Autocrítica
A autocrítica é um processo de análise que visa elucidar fatos sobre os seus próprios atos, considerando tanto os aspectos positivos como os negativos.
O objetivo da autocrítica é fazer uma avaliação realista, para que possamos identificar aquelas áreas da nossa vida que se beneficiariam de um aprimoramento.
O pensador alemão Otto Rank já dizia, no início do século passado, que as pessoas quando fazem uma autocrítica, correm o risco de se anularem, de produzirem sentimentos de inferioridade e culpa. Esta não é a maneira de se conduzir uma autocrítica saudável.
Um dos passos de autocrítica saudável é aceitar que ninguém é perfeito, e que você também não é. Que maravilha! Somos todos iguais na nossa imperfeição.
Escolha o timing para fazer uma autocrítica. Ela não é uma comparação entre o seu comportamento e o de outras pessoas. É você com você mesmo, sempre. É “virar a lupa” para dentro de si e analisar-se integralmente, admitir erros, e se possível corrigi-los. Afinal, o resultado de uma boa autocrítica servirá como guia para o aperfeiçoamento da competência intrapessoal e interpessoal.
“O erudito se vale dos seus conhecimentos para criticar os outros. O sábio é um homem que critica a si mesmo”. – Bernard Shaw
3) Autodesenvolvimento
O autodesenvolvimento consiste em colocar em prática um conjunto de ações que visam o melhoramento e evolução de si próprio.
Possuímos muitas metas e planos que desejamos realizar. Como águias, somos livres e temos a opção de escolhermos nossos destinos e caminhos. Embora saibamos aquilo que queremos, muitas vezes, confusos, escolhemos os caminhos que nos afastam dos nossos objetivos.
O exercício da autocrítica é muito útil aqui, pois o autodesenvolvimento é como uma águia, o renovar é constante. É importante ter um projeto de vida pessoal e profissional, incluindo cuidados com a saúde física, emocional, mental e espiritual, ou seja, objetivos definidos para direcionar planos, sonhos, novos voos e sem medo de alcançá-los.
Não importa o que você tenha colocado na sua lista. Uma vez que o hábito tiver sido convertido, você ficará tão feliz que esquecerá o trabalho dedicado e se sentirá recompensado. Porém, encontrando dificuldade em tomar certas atitudes, procure um coach, um psicólogo ou um profissional especializado que possa ajudá-lo. Não espere que ao longo do tempo alguém do trabalho, da família ou amigos o aconselhe a fazer isso. Felizmente a psicologia e outros métodos estão disponíveis e acessíveis para auxiliá-lo com suas metas para atingir os resultados que virá em sua maioria com muita disciplina, determinação, foco e principalmente um sonho a ser realizado. Portanto, não desista!
“Existe apenas um canto do universo que você pode ter certeza de aperfeiçoar, que é você mesmo.” – Aldous Huxley (escritor inglês)
4) Comunicação
A comunicação, em palavras simples, é a troca de informações entre dois sujeitos ou objetos. Nós, humanos, nos comunicamos através de símbolos, sejam eles palavras, desenhos, gestos ou expressões. A comunicação é uma ferramenta essencial que precisamos dominar, senão, não iremos a lugar nenhum, literalmente.
Em um processo de comunicação existem diversos componentes: o emissor, o receptor, a mensagem, o meio de comunicação, e o feedback, entre outros.
O responsável pelo sucesso da comunicação é sempre o emissor. Quem está com a palavra, emitindo uma ideia, é quem tem que achar a melhor maneira de transmiti-la.
Enquanto o receptor não interpretar a mensagem da maneira que o emissor está propondo, não há comunicação, apenas ruído, ou seja, se alguém não entendeu o que você quis dizer, a culpa é sua. É importante que fique clara essa responsabilidade.
Na comunicação, principalmente face to face, muitas pessoas incluem as inteligências emocionais e espirituais, pois quando falamos emitimos sinais de gestos, tom de voz, olhares, sentimentos, ou seja, comunicamos também com a postura que provoca reações à outra pessoa, e assim segue. O corpo fala!
Sorria sempre que possível, pois em termos neurológicos, o riso representa a distância mais curta entre duas pessoas. O sorriso cria empatia, que facilita a comunicação.
“A luta pela democracia é que desenvolve o mundo e ela se constrói com e através da comunicação.” – Betinho
5) Trabalho em equipe
Trabalho em equipe é uma competência que quanto mais trabalhada melhor, não só pelas razões óbvias, mas porque facilita o aprendizado. Há troca de experiências constantemente entre os membros da equipe, e logo, muita oportunidade de crescimento pessoal também. Tenha isso sempre em mente. Podemos evoluir no nosso cotidiano!
O trabalho em equipe é sempre mais prazeroso quando há uma conexão emocional e espiritualizada com os outros, melhorando os relacionamentos com cumplicidade. Trabalhe isso sendo o cúmplice que você gostaria de ter. Vá ao encontro das pessoas. Não espere que elas venham até você. Seja pró-ativo, use a empatia.
Para o sucesso do trabalho em equipe, é muito importante que os outros confiem em você. As empresas querem funcionários que sabem trabalhar bem com outras pessoas.
Dê feedback sempre. Se ele for positivo, divida-o com todos; se for negativo, faça-o com cuidado e individualmente com atenção ao fato de também ressaltar os méritos.
A diversidade é necessária e enriquecedora. Saber lidar com as diferenças é uma condição para o sucesso. No mercado há diversas denominações do conceito de equipe, sendo as mais usuais:
Equipe: conjunto de pessoas com objetivos comuns, que realizam trabalho interdependente e são coletivamente responsáveis pelos resultados.
Equipes de Alta Performance: conjunto de pessoas que têm liberdade para atuar e estabelecer métodos de trabalho e são capazes de executar suas metas.
Reflita, a equipe em que você trabalha se encaixaria em qual destes tipos? Pode ser que não por vários motivos ela ainda não seja uma equipe de alta performance. Porém, isso nada impede VOCÊ de ser um profissional de alta performance.
“Nunca esqueça que a vaidade é inimiga do espírito de equipe.” – Bernardinho
6) Superar Desafios
Desafios são oportunidades. Quando somos desafiados, nos sentimos provocados. É como se tivéssemos um alvo que de repente queremos acertar. Quando superamos desafios, conquistamos muito além dos objetivos propostos. Conquistamos confiança, autoestima e felicidade. Portanto, não desista. Nunca.
É claro que superar desafios não é uma simples tarefa. É uma missão. Uma oportunidade com adversidades. Há o potencial de risco, é possível fracassar.
Os desafios, ao mesmo tempo em que nos excitam, nos ameaçam.
Tanto os grandes quanto os pequenos desafios mexem com o nosso imaginário. Por isso, a melhor maneira de trabalhar a nossa capacidade de superar desafios é rever as nossas atitudes diante dos obstáculos.
Seja prudente, analise a situação como um todo. Diante de desafios, temos que tomar decisões. Antes de tomá-las, é preciso ter o máximo de informações possível. Utilize a visão 360º graus para enxergar todas as possibilidades.
A sorte está do lado dos bem-aventurados. Use o bom-senso. Desafios são apenas desafios enquanto nós ainda não os superamos.
“A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda.” – Confúcio
7) Resiliência
A resiliência é um termo oriundo da ciência, mais precisamente da Física. Significa a capacidade dos materiais de resistirem aos choques. O conceito se alastrou por outras áreas, e hoje significa a capacidade que uma pessoa tem de sobreviver a um trauma. A resistência que os seres humanos têm em face das desventuras. Não se trata apenas da resistência em si, mas da visão positiva e capacidade de reconstrução da vida, mesmo com um ambiente desfavorável.
A resiliência é uma competência pessoal, mas não necessariamente deve ser trabalhada sozinha. O apoio e acolhimento das pessoas que nos circundam, é muito bem-vindo.
No ambiente profissional ter a capacidade de seguir adiante com otimismo, de receber e dar apoio aos nossos colegas é fundamental para o equilíbrio do time, mesmo que ao redor tudo esteja indefinido. Afinal, existem muitos momentos na vida empresarial e pessoal em que temos que suportar as pressões para em seguida voltar ao nosso estado natural. É dançar conforme a música e harmonizar sempre.
“Sempre faço o que não consigo fazer para aprender o que não sei.”(Pablo Picasso)
8) Inteligência Espiritual
Inteligência Espiritual (QS), também conhecida como terceira inteligência, se trata de uma nova competência, que atua em uma dimensão além da razão e da emoção. É na inteligência espiritual que encontramos a felicidade, a qualidade de vida, a solidariedade e a realização pessoal e profissional.
Quando não conseguimos resolver algo somente através da razão ou da emoção, entra em cena outra força, a inteligência espiritual, baseada na intuição e valores interiores. A inteligência espiritual nos guia, colocando nossas experiências em um contexto de sentido de valor. Pensamos com consciência nas nossas ações, qual é a finalidade delas, como elas implicam na nossa direção pessoal. A inteligência espiritual está ligada à necessidade humana de se ter um propósito na vida. É uma base que criamos para desenvolver valores éticos e crenças que norteiam nossas ações.
Na última década, além das pesquisas de pontos neurológicos nos lobos temporais, há muitas experiências místicas e espirituais que batizaram este ponto como “ponto de deus”. Esse ponto não tem nada a ver com religião, mas sim com o nosso sentido de espiritualidade.
Um padrão de pensamento lógico permite ao homem utilizar seu QI – inteligência intelectual. Outro padrão de pensamento emotivo, afetado por hábitos permite utilizar a QE – inteligência emocional. E por fim, outro padrão de pensamento criativo, capaz de criar insights e reformular os outros tipos de pensamentos, nos permite utilizar nossa QS – inteligência espiritual.
Enquanto as inteligências emocional e racional se ocupam de variáveis em determinadas circunstâncias, a QS questiona o propósito da circunstância em si e suas condições.
Espiritualidade nos negócios e na sociedade significa trabalharmos com um sentido mais profundo de significado e de propósito de vida e na comunidade.
Pessoas inteligentes espiritualmente praticam e estimulam o autoconhecimento profundo. São idealistas e tiram oportunidades da adversidade, veem o todo, e não as partes. Independentes, questionam o mundo com freqüência, seguem seus instintos e tem compaixão pelo próximo.
Ao longo desta questão exploramos qualidades e competências que são inerentes às pessoas que possuem inteligência espiritual. Chamarei isso de “Iluminação”. Um ponto de partida para explorar essas percepções ainda pouco exploradas. Reflita: Qual a contribuição que você quer dar ao mundo? Com o que você gostaria de contribuir? Acredito que quando a humanidade estiver mais inteligente espiritualmente, a sociedade toda se beneficiará.
O autodesenvolvimento, capacitação e valorização do capital humano inclusos no planejamento estratégico das organizações são fundamentais para manter-se competitivo, sempre. As empresas necessitam de profissionais habilitados para atuação abrangente, multifuncionais e com visão universal, o que estimula o crescimento vertiginoso de maior qualificação técnica e comportamental. Esta busca por desenvolvimento de novas competências e habilidades remete aos profissionais um sentimento partilhado sobre a necessidade de avaliação sobre suas atitudes e comportamentos. Afinal, inteligência intelectual e emocional, norteadas pela espiritualidade, auxilia o ser humano em busca do equilíbrio entre o corpo, a mente e alma. Porém, seu aperfeiçoamento deve ser contínuo.
Se a competitividade é ferrenha e as organizações continuam ávidas de profissionais águias e de alta performance, eis a questão: Como agir? Este é o desafio dos Gestores de T&D, RH, e principalmente, do apoio da alta direção para treinarem, aperfeiçoarem ou desenvolverem profissionais águias e equipes de alta performance. Afinal, a valorização do capital humano continua sendo o maior capital ativo de uma empresa.